sexta-feira, 4 de março de 2016


Safatle: "Justiça desigual é a pior coisa que um país pode ter"



Gabriela Fujita
Do UOL, em São Paulo
  • Danilo Verpa/Folhapress
    Vladimir Safatle, filósofo
    Vladimir Safatle, filósofo
O momento é certamente histórico para a política brasileira, com efeitos de força ainda desconhecida, mas que levanta uma dúvida, na opinião do filósofo e professor da USP Vladimir Safatle: "É briga de gângsteres ou é transformação política?"
Seria pesaroso perder o que se oferece à sociedade com a investigação e o debate da corrupção pública porque pairam incertezas sobre a parcialidade, diz ele em entrevista aoUOL.
"A gente chegou a um ponto muito sério, que eu diria que é assim: para que nós possamos ter um mínimo de confiança nas instituições brasileiras, nós precisamos ter provas de simetria, provas de que essas instituições agem de maneira simétrica contra qualquer ator político. Só que isso está longe de acontecer até agora", ele afirma. 
E o que é a simetria, a igualdade na política e na Justiça?
"A simetria significa que todos os atores envolvidos serão punidos. Porque uma coisa é clara: toda e qualquer pessoa que atentou contra o bem comum, que utilizou da sua posição de governo para adquirir benesses em relação ao bem comum, seja para si próprio, seja para seu grupo, merece ter uma punição exemplar. Não há o que se discutir nesse ponto. O que há de se discutir é: todos precisam passar por isso. E o que a gente está vendo é que isso não está acontecendo até agora."
"Se você continua com esse sistema de assimetria, o tiro vai sair pela culatra. E alguém como Lula, que está longe de ser uma pessoa inábil, do ponto de vista político, pode, na verdade, até sair fortalecido desse processo."
Prestes a completar dois anos de atividades, a operação Lava Jato teve nesta sexta-feira (4) sua 24ª fase, possivelmente a de maior impacto, com foco no ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva.
Por determinação do juiz Sérgio Moro, Lula foi obrigado a depor à Polícia Federal, em São Paulo, através do que é conhecido juridicamente por condução coercitiva (quando o investigado não pode se negar a comparecer). O ex-presidente petista não foi intimado, e não foi expedido mandado de prisão contra ele.
"Todas as pessoas que foram presas e indiciadas até agora, elas estão ligadas ao governo federal, embora o caso seja mais amplo do que simplesmente a esfera do governo federal, desses mandatos do PT. A gente já sabe que esses casos começaram a ocorrer no governo do PSDB, tem vários políticos de oposição envolvidos, e nada aconteceu com eles até agora", afirma Safatle.
"Pode ser simplesmente uma briga de gangues na política brasileira ou pode ser de fato um momento importante de transformação. Isso vai depender muito do que acontecer daqui para frente."
O mais grave, na opinião do filósofo, é que o eleitor fique à mercê de um cenário em que só importa de que lado da batalha ele está: o Fla-Flu, o azul contra o vermelho, o petralha versus coxinha.
Entender o que é o problema de corrupção no país, não só neste ou naquele partido, e como ele está sendo investigado e combatido é o que deveria ser entregue.
"O mínimo que você pode dizer é que há uma dúvida muito grande devido ao desdobramento das ações e às consequências das ações para cada um dos atores políticos", ele defende.
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