Postado por Grupo Roma Conteúdos| Data: 8/29/2017| Categoria: Brasil
Um em cada cinco domicílios brasileiros não tem renda fruto do trabalho, formal ou informal, de acordo com reportagem publicada no Valor Econômico. Até o segundo trimestre deste ano, o Brasil tinha 15,2 milhões de residências onde ninguém trabalhava. O número representa um crescimento de 22% em relação ao registrado em 2014. Naquele ano, havia 2,8 milhões de lares nessa situação.
O levantamento foi feito a pedido do Valor pelos pesquisadores Samuel Franco e Suiani Febroni, do Instituto de Estudos de Trabalho e Sociedade (Iets) e da Oportunidades, Pesquisa e Estudos Sociais (OPE Sociais), a partir dos microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (Pnad Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“A crise colocou muitos chefes de família para fora do mercado de trabalho. Em muitos lares, cônjuges e filhos também foram demitidos. Membros da família tiveram que buscar emprego para recompor a renda, mas poucos conseguiram. Esse é o motivo mais provável para o resultado da pesquisa. São lares que estão agora sem renda do trabalho e que passam por um momento difícil”, disse Samuel Franco ao Valor.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 2,6 milhões de brasileiros perderam seus empregos entre o fim de 2014 e o segundo trimestre de 2017. A taxa de desemprego passou de 6,5% para 13% da força de trabalho nesse período. O número de desempregados nesse intervalo saltou de 6,4 milhões para 13,5 milhões. (Valor Econômico)
Mulher de deputado, que foi para tribuna pedir a prisão do Lula e a cabeça de Dilma em nome do "combate a corrupção'' e em apoio a Lava Jato é filmada recebendo malas e malas de propina.
A ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou a abertura de inquérito para investigar o senador José Serra (PSDB-SP) por possível prática de caixa dois na campanha eleitoral de 2010. A investigação, solicitada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, tem como base a delação do empresário Joesley Batista, do grupo J&F.
Em colaboração com a Procuradoria-Geral da República (PGR), Joesley afirmou que acertou pessoalmente com o tucano uma doação de R$ 20 milhões para a campanha presidencial do político, sendo que R$ 13 milhões teriam sido doados de forma oficial. O restante do valor, mais de R$ 6 milhões, foram pagos sem registro oficial, por meio de caixa dois, segundo o delator.
O caso foi inicialmente remetido ao ministro Edson Fachin, mas redistribuído no STF porque a PGR entendeu que não havia relação com a Lava Jato. A decisão de Rosa Weber é do último dia 18, mas só foi incluída hoje, 28, no sistema processual da Corte.
“Os fatos, na compreensão do Procurador-Geral da República, justificam verticalizar as investigações quanto a possível ocorrência do delito previsto no artigo 350 do Código Eleitoral”, escreveu a ministra Rosa Weber.
Joesley infomou à PGR as formas de pagamento utilizadas, que envolveram nota fiscal superfaturada de aquisição de camarote em um autódromo para evento de Formula 1, emitida por empresa ligada a um amigo do senador. O empresário também diz ter utilizado nota fria emitida por uma segunda empresa.
No despacho, Rosa Weber deu prazo de 60 dias para que a Polícia Federal realize as diligências de investigação solicitadas por Janot. Para a ministra, as diligências pedidas “se mostram proporcionais”, “razoáveis” e “úteis”. Os donos das empresas que emitiram as notas fiscais que possibilitaram os repasses para Serra deverão ser ouvidos no inquérito.
COM A PALAVRA, JOSÉ SERRA
O senador José Serra reitera que todas as suas campanhas eleitorais foram conduzidas dentro da lei, com as finanças sob responsabilidade do partido. E sem nunca oferecer nenhuma contrapartida por doações eleitorais.”
Advogado acusa amigo de Moro de intervir em acordo
Divulgação
O advogado Carlos Zucolotto Jr. (à esq.) com Sergio Moro, o vocalista do Skank, Samuel Rosa, e a mulher de Moro, Rosangela, em show da banda em Curitiba
O advogado Rodrigo Tacla Duran, que trabalhou para a Odebrecht de 2011 a 2016, acusa o advogado trabalhista Carlos Zucolotto Junior, amigo e padrinho de casamento do juiz Sergio Moro, de intermediar negociações paralelas dele com a força-tarefa da Operação Lava Jato.
A mulher de Moro, Rosangela, já foi sócia do escritório de Zucolotto. O advogado é também defensor do procurador Carlos Fernando dos Santos Lima em ação trabalhista que corre no STJ (Superior Tribunal de Justiça).
As conversas de Zucolotto com Tacla Duran envolveriam abrandamento de pena e diminuição da multa que o ex-advogado da Odebrecht deveria pagar em um acordo de delação premiada.
Em troca, segundo Duran, Zucolotto seria pago por meio de caixa dois. O dinheiro serviria para "cuidar" das pessoas que o ajudariam na negociação, segundo correspondência entre os dois que o ex-advogado da Odebrecht diz ter em seus arquivos.
Jaime Casal/El Pais
O advogado Rodrigo Tacla Duran
As informações e a transcrição da suposta correspondência estão em um livro que Duran está escrevendo e que pretende lançar até outubro. A Folha teve acesso à íntegra do texto, que foi publicado e depois retirado da internet.
A assessoria de Tacla Duran confirma que a obra é dele. Diz que o texto foi postado na rede por engano mas que será republicado em breve e sem alterações substanciais em seu conteúdo.
Zucolotto nega as acusações. Os procuradores citados por Tacla Duran afirmam que nem sequer conhecem o advogado amigo de Moro.
O juiz diz que Zucolotto é "sério e competente" e afirma ser "lamentável que a palavra de um acusado foragido da Justiça brasileira [Tacla Duran] seja utilizada para levantar suspeitas infundadas sobre a atuação da Justiça".
Tacla Duran foi acusado de lavagem de dinheiro e de formação de organização criminosa pelo Ministério Público Federal. O advogado tentou fazer delação premiada, mas as negociações fracassaram.
Ele teve a prisão decretada por Moro. Chegou a ser detido na Espanha em novembro de 2016. Em janeiro, foi libertado. O Brasil pediu a sua extradição, mas a Espanha negou –Tacla Duran tem dupla cidadania.
Desde então, ele vem dando entrevistas com acusações à Lava Jato e à Odebrecht. Conforme a Folha publicou, ele diz que a empreiteira fraudou documentos apresentados em seu acordo de delação premiada. NA PARALELA
No texto publicado na internet, ele afirma que, entre março e abril de 2016, tratou das investigações da Lava Jato com Zucolotto. O escritório do advogado atuava havia dois anos como correspondente da banca Tacla Duran Advogados Associados, no acompanhamento de audiências trabalhistas e execuções fiscais.
"Carlos Zucolotto então iniciou uma negociação paralela entrando por um caminho que jamais imaginei que seguiria e que não apenas colocou o juiz Sergio Moro na incômoda situação de ficar impedido de julgar e deliberar sobre o meu caso, como também expôs os procuradores da força-tarefa de Curitiba", escreveu Duran.
Ele diz que estava nos EUA e que, por isso, a correspondência entre os dois ocorria através do aplicativo de mensagens Wickr, que criptografa e pode ser programado para destruir conversas.
"Ao se prontificar a me ajudar", segue, "Zucolotto explicou que a condição era não aparecer na linha de frente. Revelou ter bons contatos na força-tarefa e poderia trabalhar nos bastidores".
Antes que Zucolotto entrasse no circuito, segundo ainda o texto de Duran, o procurador Roberson Pozzobon teria proposto que ele pagasse uma multa de US$ 15 milhões à Justiça. Duran diz que não aceitava a proposta.
"Depois de fazer suas sondagens, Zucolotto conversou comigo pelo Wickr", afirma o ex-advogado da Odebrecht.
Na suposta correspondência, Zucolotto afirma ter "como melhorar" a proposta de Pozzobon. Diz também que seu "contato" conseguiria "que DD [Deltan Dallagnol]" entrasse na negociação.
Ainda segundo Duran, a ideia de Zucolotto era alterar o regime de prisão de fechado para domiciliar e diminuir a multa para um terço do valor, ou seja, US$ 5 milhões.
"E você paga mais um terço de honorários para poder resolver isso, me entende?", teria escrito Zucolotto, segundo a suposta transcrição da correspondência entre eles. "Mas por fora porque tenho de resolver o pessoal que vai ajudar nisso."
Duran diz então que, "de fato, os procuradores Julio Noronha e Roberson Pozzobon enviaram por e-mail uma minuta de acordo de colaboração com as condições alteradas conforme o que Zucolotto havia indicado em suas mensagens". RECUSA
Ele teria recebido a proposta no dia 27 de maio de 2016, uma sexta-feira. Teria que voltar ao Brasil três dias depois, para assinar o acordo.
"Sozinho na minha casa na Flórida, pensei muito sobre isso e decidi que não assinaria nem voltaria ao Brasil", afirma Duran. Ele diz ter enviado um advogado para representá-lo na reunião.
"Ao serem informados da minha recusa em admitir crimes que não cometera, os procuradores de Curitiba não quiseram mais conversa e encerraram as negociação", diz. "Foi nosso último contato", afirma Duran na última linha de seu texto. OUTRO LADO
O juiz Sergio Moro saiu em defesa do advogado Carlos Zucolotto Junior e disse, por meio de nota, ser "lamentável que a palavra de um acusado foragido da Justiça brasileira seja utilizada para levantar suspeitas infundadas sobre a atuação da Justiça".
"A alegação de Rodrigo Tacla Duran de que o sr. Carlos Zucolotto teria prestado alguma espécie de serviço junto à força-tarefa da Lava Jato ou qualquer serviço relacionado à advocacia criminal é falsa", disse o magistrado.
Moro admite que os dois são amigos –Zucolotto foi padrinho de casamento dele e os dois vão juntos a programas como um show do Skank, em Curitiba.
"O sr. Carlos Zucolotto é pessoa conhecida do juiz titular da 13ª Vara Federal [o próprio Moro] e é um profissional sério e competente", afirma o magistrado.
"O sr. Carlos Zucolotto atua na área trabalhista e jamais advogou em matéria criminal", disse ainda o juiz.
O próprio Moro, ao receber os questionamentos da Folha, entrou em contato com o advogado e enviou as explicações dele ao jornal.
"A partir das perguntas efetuadas, o sr. Carlos Zucolotto, consultado, informou que foi contratado para extração de cópias de processo de execução fiscal por pessoa talvez ligada a Rodrigo Tacla Duran em razão do sobrenome (Flávia Tacla Duran) e por valores módicos", diz Moro.
Flávia é irmã de Rodrigo Tacla Duran.
Moro afirmou ainda que sua mulher, Rosangela, participou "de uma sociedade de advogados" com Zucolotto, mas "sem comunhão de trabalho ou de honorários".
Segundo ele, Rosangela "jamais trabalhou em processos do escritório do sr. Carlos Zucolotto e vice-versa".
Na manhã deste domingo (27), o magistrado divulgou nota reiterando as afirmações feitas à Folha.
Ele acrescentou que "o relato de que o advogado em questão teria tratado com o acusado foragido Rodrigo Tacla Duran sobre acordo de colaboração premiada é absolutamente falso".
"Nenhum dos membros do Ministério Público Federal da força-tarefa em Curitiba confirmou qualquer contato do referido advogado sobre o referido assunto ou sobre qualquer outro porque de fato não ocorreu qualquer contato", diz a nota do magistrado (leia a íntegra abaixo). 'PERFIL FALSO'
O advogado também nega ter feito qualquer negociação paralela com a força-tarefa da Operação Lava Jato para aliviar a situação de Rodrigo Tacla Duran.
"Não tem o mínimo de verdade nisso. Não existe", diz Zucolotto. "Eu não conheço ninguém [da força-tarefa]. Nunca me envolvi com a Lava Jato. Sou da área trabalhista. Não tenho contato com procurador nenhum", diz.
Ele afirma ainda que nunca se encontrou nem conversou com Tacla Duran, muito menos por meio do aplicativo Wickr, que destrói as mensagens recebidas.
"Nunca baixei esse aplicativo no meu telefone. Não tinha nem ouvido falar que existe", afirma.
Ele diz ainda que Duran não pode ter registros de conversas entre os dois porque elas "nunca existiram. Só se ele inventou um perfil falso".
Segundo Zucolotto, "muita gente quer se livrar da caneta do Moro", e Tacla Duran tenta atingi-lo com essa finalidade.
Ele diz que de fato seu escritório foi correspondente da banca Tacla Duran Advogados Associados, na área de execução fiscal e trabalhista.
O contato de trabalho, no entanto, era Flávia, irmã do ex-advogado da Odebrecht. "Eu nem sabia que ele [Rodrigo Tacla Duran] fazia parte do escritório. Nem sabia quem era a pessoa dele."
A força-tarefa de Curitiba disse, por meio da assessoria de imprensa, que nenhum dos procuradores citados no diário de Tacla Duran conhece o advogado Zucolotto.
Eles reforçam ainda que Duran é acusado de cometer 104 crimes de lavagem de dinheiro e organização criminosa, com desvios de bilhões de reais. SÓCIO
O procurador Carlos Fernando dos Santos Lima afirmou, também por meio da assessoria, que seu advogado na ação trabalhista que corre no STJ (Superior Tribunal de Justiça) é, na verdade, Vicente Paula Santos. O nome de Carlos Zucolotto aparece na ação porque ele já foi sócio de Paula Santos.
Em um comentário publicado nas redes sociais na semana retrasada, Carlos Fernando dos Santos Lima afirmou que Rodrigo Tacla Duran chegou ao Ministério Público "cheio de mentiras" e fugiu após ter sua proposta de colaboração recusada.
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Leia a íntegra da nota divulgada pelo juiz Sergio Moro neste domingo (27):
"O advogado Carlos Zucolotto Jr. é advogado sério e competente, atua na área trabalhista e não atua na área criminal;
O relato de que o advogado em questão teria tratado com o acusado foragido Rodrigo Tacla Duran sobre acordo de colaboração premiada é absolutamente falso;
Nenhum dos membros do Ministério Público Federal da força-tarefa em Curitiba confirmou qualquer contato do referido advogado sobre o referido assunto ou sobre qualquer outro porque de fato não ocorreu qualquer contato;
Rodrigo Tacla Duran não apresentou à jornalista responsável pela matéria qualquer prova de suas inverídicas afirmações e o seu relato não encontra apoio em nenhuma outra fonte;
Rodrigo Tacla Duran é acusado de lavagem de dinheiro de milhões de dólares e teve a sua prisão preventiva decretada por este julgador, tendo se refugiado na Espanha para fugir da ação da Justiça;
O advogado Carlos Zucolotto Jr. é meu amigo pessoal e lamento que o seu nome seja utilizado por um acusado foragido e em uma matéria jornalística irresponsável para denegrir-me; e
Lamenta-se o crédito dado pela jornalista ao relato falso de um acusado foragido, tendo ela sido alertada da falsidade por todas as pessoas citadas na matéria."
País acumula mais de R$ 6,8 bi em riquezas paradas em bancos e empresas
Milhares de brasileiros podem ter guardados na gaveta, sem saber, títulos capazes de serem convertidos em um bom dinheiro, de cotas dos fundos 157 a ações das antigas empresas telefônicas
O curioso que se der o trabalho de revirar os documentos antigos da família pode encontrar um verdadeiro tesouro escondido no fundo da gaveta. O país acumula mais de R$ 6,8 bilhões em riquezas parados nos cofres de bancos e empresas, vindos de fundos de investimentos esquecidos, contas inativas e bilhetes de loteria premiados não resgatados. Abandonados há anos, parte dos recursos ainda pode ser recuperada e se tornar um alívio para as dificuldades financeiras.
Muitos sequer sabem, mas quem declarou o Imposto de Renda entre as décadas de 1960 e 1980 teve a opção de deduzir parte do valor devido ao governo e investi-lo no Fundo 157, destinado a incentivar o mercado de capitais. Quase R$ 1 bilhão está esquecido nas contas desde que o mecanismo foi extinto, há 34 anos. “O benefício foi criado pelo governo para aumentar as aplicações em ações, já que a economia estava estabilizada e o mercado de capitais dava os primeiros passos no país”, explica Carlos Eduardo de Freitas, ex-diretor do Banco Central.
Depois de tanto tempo, os títulos caíram no esquecimento. A maior parte dos cotistas sacou os recursos, mas quase três milhões de pessoas nunca procuraram saber o que aconteceu com o dinheiro. E ainda é possível resgatar os valores. O primeiro passo para verificar se há algum resquício do montante é, com o número do CPF do cotista, acessar o site da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para saber se há alguma aplicação e verificar em qual
É necessário ter documentos originais que comprovem os investimentos, realizar uma atualização monetária do valor da aplicação até os dias de hoje e seguir o procedimento estabelecido pela instituição financeira. O especialista em investimento do Banco Ourinvest Mauro Calil, fundador da Academia do Dinheiro, lembra que herdeiros também podem fazer o resgate. “Por serem investimentos tão antigos, familiares de quem investiu à época podem nunca ter tomado conhecimento da existência da aplicação”, afirma.
Projeto
Mas é preciso ficar atento. Um projeto de lei que tramita na Câmara dos Deputados propõe destinar o dinheiro das cotas para programas de políticas públicas. Para o deputado Enio Verri (PT/PR), relator da proposta, os recursos devem ser úteis para a população. “Temos muito dinheiro parado que poderia retornar para o cidadão e fazer a economia girar”, argumenta. O projeto está parado na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) da Câmara e aguarda a definição de um relator para continuar tramitando. Se aprovado, os dias para conseguir recuperar o tesouro esquecido podem estar contados.
As contas inativas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) foram liberadas pelo governo federal no início deste ano. Apesar disso, ainda há R$ 5,8 bilhões não sacados, que poderiam ter sido injetados na economia. “Já vimos o impacto que a liberação desses recursos pode ter. A medida aliviou a situação financeira de muitas famílias, o que ajuda na retomada da economia”, afirma Calil. Os 6,8 milhões de brasileiros que não aproveitaram a chance de colocar a mão no dinheiro do fundo, porém, só poderão sacá-lo em caso de aposentadoria, compra da casa própria, demissão sem justa causa ou em casos de doenças graves ou em estágio terminal, como determina a legislação.
Outra mina de ouro podem ser as ações da antiga Telebras. Entre os anos 1970 e 1990, comprar uma linha telefônica significava tornar-se acionista da companhia. Assim, o cliente recebia ações da empresa concessionária do serviço público de telecomunicações e, mesmo se vendesse a linha, continuava sendo acionista. Mas, com a reorganização do sistema, os investimentos foram perdidos e recuperar ficou um pouco complicado. Para isso, a CVM recomenda que os consumidores os procurem nas companhias que assumiram o serviço da Telebras, como Telefônica, Tele Norte Leste e Embratel.
O que virou pó
Infelizmente, nem todo dinheiro desses tesouros esquecidos pode ser recuperado. É o caso de brasileiros que compraram ações na época em que elas ainda eram, de fato, papéis. No início dos anos 1970, em meio ao primeiro grande ciclo de alta da bolsa de valores, não era possível nem imaginar que a propriedade de um título no mercado financeiro viesse a ser registrada, um dia, por um computador. Àquela época, certificados de propriedade eram emitidos fisicamente.
E nem todos o títulos eram emitidos em nome do proprietário. Havia as ações ao portador, extintas em 1990. Os certificados eram impressos em papel moeda e podiam ser vendidos, diretamente, pelo dono. “Elas eram emitidas sem nome, apenas um número de registro. As pessoas podiam carregar para lá e para cá, vender para quem quisesse. Isso se tornou um grande problema. Assim como falsificavam notas de dinheiro, houve muitas fraudes”, explica Calil.
As ações ao portador se tornaram uma forma fácil de lavar dinheiro e fugir do pagamento de impostos e, por isso, foram, por lei, proibidas. Nesse processo, várias dessas ações ficaram sem dono, como as da Petrobras, que, hoje, somam mais de R$ 30 milhões no capital social da estatal. De acordo com a empresa, ainda pode haver uma pequena chance de converter essas ações. Para tentar, os investidores “devem comparecer às agências do Banco do Brasil munidos dos respectivos certificados das ações originais e dos documentos pessoais (identidade, CPF e comprovante de residência)”.
No entanto, o advogado Marlon Tomazette, especialista em direito empresarial e professor de direito comercial, afirmou que as últimas decisões judiciais sobre o assunto foram favoráveis ao cumprimento da lei, que estipulava um prazo de dois anos para transformar as ações em nominativas. “Na minha visão, a pessoa tem o direito de resgatar até hoje, desde que tenha o certificado de comprovação. Mas, a Justiça não tem visto por esse lado”, opina. “Na prática, elas não têm um titular e acabam se tornando parte da empresa”, acrescenta.
Outra chance perdida de engordar a conta bancária é deixar de resgatar um prêmio de loteria. Pode até parecer que isso não acontece, mas, só no primeiro semestre deste ano, R$ 135,39 milhões, vindos de prêmios prescritos, foram repassados ao Tesouro Nacional. Nos últimos cinco anos, os brasileiros deixaram para trás R$ 1,4 bilhão. Por determinação de lei, os valores dos bilhetes premiados e não resgatados em 90 dias, a partir do sorteio, são repassados para o Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies).
Nesses casos, recorrer à Justiça pode não ajudar muito também. De acordo com Tomazette, as decisões são, frequentemente, favoráveis ao não pagamento. “A pessoa perde o direito de exigibilidade de receber. Como empresa pública, a Caixa Econômica Federal segue o determinado por lei”, afirma.
Por motivos de segurança, a Caixa não informa qual é o volume de prêmios não resgatados que ainda estão dentro do prazo para resgate. Segundo o banco, na maior parte dos casos, os valores são referentes a prêmios de pequeno valor.
segunda-feira, 21 de agosto de 2017
muro da vergonha
Muro da Vergonha separa indígenas de ‘gringos’ em Lima
Dez quilômetros de barreira de concreto que cortam os morros da capital peruana resumem o abismo social e étnico no país
FABIANO MAISONNAVE E AVENER PRADO
ENVIADOS ESPECIAIS A LIMA
21.ago.2017 - 02h00
Caso pudesse caminhar até a mansão onde trabalha de ajudante geral, Esteban Arimana levaria cinco minutos desde a porta da sua casa. Em vez disso, passa cerca de duas horas por dia dentro de ônibus lotados pelas vias congestionadas de Lima.
A distância entre as casas vizinhas é imposta pelo Muro da Vergonha, como ficaram conhecidos os dez quilômetros de barreiras que serpenteiam os morros da capital peruana. Erguido a partir de meados dos anos 1980, a sua função é separar as áreas urbanizadas dos “povoados jovens”, o eufemismo local para designar favelas.
“Se abrissem uma porta, seria bom”, diz Arimana, que vive com a mulher e três filhos, o mais velho de 14 anos, aolado do muro de concreto de três metros coberto por arame farpado. “Mas, porque estamos na pobreza, é muito difícil sermos ouvidos.”
Muro coberto por arame farpado separa as áreas urbanizadas dos "povoados jovens", o eufemismo local para designar favelas, em Lima, no Peru (Avener Prado/Folhapress)
A família é uma típica moradora de Pamplona Alta, conjunto de favelas com 96 mil pessoas erguida em um morro com o mesmo nome. Como a ampla maioria dos que vivem ali, os Arimana são migrantes de origem indígena do altiplano peruano.
O casebre de paredes de compensado foi erguido por eles mesmos sobre o terreno acidentado. Não tem água encanada.
O banheiro, do lado de fora, é apenas um buraco. Uma moradia ali sai, no máximo, por US$ 15 mil (R$ 47 mil).
Internamente, Pamplona Alta está subdividida pela altura. Quanto mais perto do cume e dos muros, mais precária a situação das moradias, muitas delas erguidas sobre um aterro feito de pneus.
As dezenas de quilômetros de ruas não pavimentadas foram esculpidas na pedra pelos próprios moradores. O método: novamente usando pneus, eles incendeiam a base das grandes rochas, que racham com a temperatura alta e em seguida são esmigalhadas a marteladas.
O ajudante geral Esteban Arimana, morador de Pamplona Alta, que leva duas horas para chegar na mansão onde trabalha em Las Casuarinas (Avener Prado/Folhapress)
Nas zonas mais baixas, onde já houve regularização das posses e há água encanada, alguns moradores criaram versões locais de condomínios privados. Para evitar roubos às casas, muitos fecharam as ruas por conta própria, usando cancelas atadas a correntes com cadeados.
Em uma dessas áreas mais antigas, um vigia cuidava, em uma guarita sobre o muro, para que ninguém cruzasse para o lado rico.
A metros dele, uma mensagem feita por moradores do lado pobre: “Não se aceitam maconheiros, ladrões, membros de gangue, traficantes etc. Sob sanção da justiça comunitária.”
Arimana mora há dez anos em uma das áreas não regularizadas. Poucos metros acima, o muro de três metros marca o limite com o condomínio Las Casuarinas, onde o acesso, controlado por seguranças e câmeras no pé do morro, só é permitido a residentes e seus convidados.
Com vista privilegiada de Lima, há mansões à venda ali por até US$ 4,5 milhões (cerca de R$ 14 milhões).
É num desses casarões que ele trabalha, fazendo a segurança e pequenos consertos. “Profissão mesmo, não tenho. Pode ser em obra, em qualquer trabalho que apareça.”
Ao contrário do metro quadrado das casas, a água é mais cara no lado de Arimana, que precisa recorrer a caminhões-pipa privados.
Enquanto em Pamplona Alta, estocada em tonéis de plástico, sai por cerca de US$ 9 (R$ 29) por metro cúbico, no asfalto o preço da água que sai da torneira varia de US$ 0,3 a US$ 1,5, dependendo da faixa de consumo. Ou seja, os mais pobres pagam em média dez vezes o valor pago pelos ricos.
“Daquele lado, todos têm piscina, enquanto nós sofremos com a falta de água”, compara Arimana para afirmar que a desigualdade no Peru está piorando.
Rotina na Pamplona Alta, conjunto de favelas com 96 mil pessoas; no vídeo, grupo de igreja pentecostal se apresenta na comunidade (Avener Prado/Folhapress)
Chamados de “gringos” pelos vizinhos pobres em alusão à pele mais clara decorrente da origem europeia, os moradores de Las Casuarinas costumam argumentar que o muro foi erguido por razões de segurança e para conter as invasões de terra.
Os residentes incluem o renomado chef e empresário Gastón Acurio, que tem uma das casas mais próximas ao muro. Filho de um senador e educado em Paris, ele é apontado como principal responsável pela popularização da culinária peruana no mundo.
Por e-mail, Acurio diz que discorda do muro, mas não quis explicar o motivo. Ele afirma que planeja abrir, em 2019, sua segunda escola de culinária em Pamplona Alta voltada para alunos pobres –a primeira, aberta em outra zona empobrecida da cidade, ensina cerca de 300 jovens.
“Tentamos, como empresários e família, atuar diretamente para que o Peru consiga terminar rápido e para sempre com todas as divisões econômicas, sociais, culturais e físicas que nos têm desonrado por séculos”, escreveu.
Arquiteto e cartunista, Carlín atribui o muro e as grades onipresentes em Lima ao desemprego e à desigualdade racial prevalentes no país.
“O pior racismo é aquele que as pessoas dizem que não existe”, diz Carlín, cujos desenhos criticando Lima foram reunidas no livro “Errar es Urbano”. “Somos um dos países mais racistas.”
Residências de classe média alta no distrito de Santiago de Surco, em Lima, próximo a muro que divide região pobre de rica (Avener Prado/Folhapress)
Como ocorre em outros países latino-americanos, o crescimento da população de Lima se deu principalmente pela expansão dos “povados jovens”, antigamente chamados de “barriadas”.
Em 1961, 17% viviam em favelas limenhas. No censo mais recente, de 2007, esse número chegou a 4,1 milhões, o equivalente a 40% da população limenha, segundo dados coletados pelo sociólogo Julio Calderón no livro “La Ciudad Ilegal”.
Além de procurar melhores oportunidades econômicas, milhares deles vieram a Lima nos anos 1980 e 1990 fugindo do conflito interno desencadeado pela guerrilha maoísta Sendero Luminoso, concentrada principalmente nos Andes.
A construção do Muro da Vergonha seguiu o mesmo ritmo de ampliação das favelas. O primeiro trecho foi erguido em 1985 pelo Colégio Imaculada Conceição, administrado pelos jesuítas (a mesma ordem do papa Francisco).
Na época, a escola disse que a intenção da obra –executada sem que houvesse licença prévia– era impedir que as invasões se aproximassem da instituição.
Atualmente, além dos muros da escola, de Las Casuarinas e de outros condomínios privados, há também um trecho erguido e vigiado pelo poder público.
Muro que separa região pobre de rica em Lima, no Peru; barreiras que serpenteiam os morros de Lima somam 10 km de extensão (Avener Prado/Folhapress)
La Molina, uma das 43 municipalidades de Lima, construiu uma barreira de pedras e arame farpado no limite com Pamplona Alta, que pertence ao município de San Juan de Miraflores.
O muro é um pouco mais baixo do que o dos condomínios privados e conta com um ponto de passagem, onde há um posto de controle da guarda municipal de La Molina.
O acesso é usado diariamente por moradores de Pamplona Alta que trabalham em La Molina, que tem bairros de classe média e alta.
A descida é feita por pequenos caminhos pelo morro íngreme –ao contrário do lado pobre, não há escadas.
“Da fronteira de La Molina para dentro é um desastre”, afirma Dionisio Chirinos, que voltava de um dia de trabalho, acompanhado pelo filho de adolescente, cujo joelho sangrava. “Como você viu, o meu filho acabou de machucar a perna.”
Dionisio Chirinos caminha por morro íngreme usado por moradores de Pamplona Alta que trabalham em La Molina (Avener Prado/Folhapress)
Pouco antes, a reportagem encontrou o único morador da zona mais rica que se aventurava por Pamplona Alta. Residente em La Molina, o estudante Julio Díaz havia escalado a montanha para se exercitar. Apesar de não ter receio de visitar a zona, disse ser favorável ao muro.
“O muro é necessário para limitar as invasões. Há muito tráfico de terrenos. Pessoas mal intencionadas se apoderam de tudo, loteiam e vendem aos mais necessitados. Mas, como vemos aqui, há livre trânsito de pessoas.”
Procurada, a assessoria de imprensa de La Molina se limitou a informar que a construção da barreira serve para proteger o meio ambiente de mais invasões, mas não atendeu ao pedido de entrevista com um porta-voz da municipalidade.
Na parte mais alta do morro, a cerca de dez minutos de Pamplona Alta, está uma das invasões mais recentes, convenientemente batizada de Valle Escondido.
Crianças jogam vôlei no Valle Escondido, a cerca de dez minutos de Pamplona Alta (Avener Prado/Folhapress)
Ali, sem luz nem água e sob constantes ventos gelados, as famílias se dividiram em dois grupos pelo controle da região, gerando um ambiente de desconfiança.
Um dos moradores, que falou sob a condição do anonimato por causa do clima tenso, explicou a ausência do muro: “Aqui é tão íngreme que não conseguimos caminhar até lá embaixo.”