A relação entre o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) e Michel Temer (PMDB) já não é boa há tempos, mas agora ganhou contornos de guerra. O senador disparou contra o correligionário e atingiu também o ex-procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Atualmente na oposição, Calheiros acusou Temer de negociar com Janot para livrar seus amigos da Operação Lava Jato, incluindo ministros e o ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), hoje preso. Calheiros disse também que Cunha e Temer são “umbilicalmente” ligados. “Aquilo ali é um corpo só”, atacou o ex-aliado.
Renan Calheiros relatou conversas mantidas com o presidente pouco antes de seu rompimento com o governo, em fevereiro. Disse que Temer chegou a dizer a ele que “fecharia os olhos” para a sucessão de Janot, nomeando um aliado dele, Nicolao Dino, se fosse o mais votado na lista tríplice do Ministério Público. Em troca, teria acertado que o procurador-geral não denunciaria ministros. “Foi por isso que Michel fez aquele pronunciamento, em fevereiro dizendo que, se um ministro fosse denunciado, seria afastado do governo. Já tinha um acordo”, afirmou Calheiros. Temer, todavia, descumpriu a promessa.
Ex-presidente do Senado e ex-líder do PMDB, o senador disse que alertou Temer de que Janot não era confiável. “Eu falei para ele: Michel, você não vai fazer aliança com Janot. Ele já traiu Fabiano [Silveira, ex-ministro da Transparência] e também vai lhe trair na primeira esquina”, relatou. Silveira caiu 18 dias após assumir o cargo, em maio de 2016, após ser gravado em conversa com Calheiros, seu padrinho, orientando o então presidente do Senado e o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, nas investigações da Lava Jato.
Segundo Calheiros, Temer também negociou com Janot, quando ainda era vice-presidente, a retirada do nome de Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) das investigações. “No governo Dilma, queriam nomear Henrique para ministro do Turismo. Dilma disse ao Michel que só nomearia se ele não estivesse na lista de Janot. Michel, então, se encontrou com Janot e pediu a ele para tirar Henrique e também Eduardo Cunha da investigação. Ele livrou Henrique, mas disse que não conseguiu tirar o Eduardo”, contou o senador. Henrique Eduardo Alves foi nomeado em abril de 2015, no lugar de Vinícius Lage, afilhado político de Calheiros.
Alvo da Lava Jato, o senador soube, depois, que Temer nunca fez qualquer pedido por ele ao procurador-geral. “Janot mandou o seguinte recado para mim, por meio de um interlocutor: ‘Diga ao presidente Renan que ele não tem prestígio nenhum com o vice-presidente'”, disse. Ele assegurou que disse tudo isso para Temer na conversa de rompimento. Chegou até a pedir ao presidente a demissão do então ministro da Justiça, Osmar Serraglio (PMDB-PR), segundo ele indicado por Cunha “de dentro da prisão”. Temer teria respondido: “Renan, você sabe que estou sendo chantageado”.
Em nota, a Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom) negou as acusações feitas por Renan Calheiros. “O senador Renan Calheiros deveria escolher melhor seus amigos-informantes. Verifica-se, pelas informações fantasiosas, que essa é mais uma de suas escolhas erradas”, diz o texto assinado pela Secom. De férias na Europa, Janot ainda não se manifestou.
Às vésperas de deixar o cargo, Janot apresentou a segunda denúncia contra Temer no Supremo Tribunal Federal (STF) – desta vez por organização criminosa e obstrução da Justiça – e incluiu na acusação os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil/PMDB) e Moreira Franco (Secretaria de Governo/PMDB). Temer não nomeou Nicolau Dino, o primeiro da lista do Ministério Público, para o comando da Procuradoria-Geral da República, escolhendo Raquel Dodge, a segunda colocada.
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