quinta-feira, 27 de outubro de 2016


estudante que 'encarou' deputados do Paraná defende ocupações de escolas


PUBLICIDADE
O telefone de Ana Júlia Pires Ribeiro, 16, não para de tocar. A estudante de um colégio público do Paraná ganhou notoriedade nesta quarta (26), ao fazer discurso incisivo a deputados estaduais a favor das ocupações de escolas do Estado –são cerca de 700 unidades ocupadas em protesto contra a reforma nacional do ensino médio.
"É um insulto a nós que estamos lá, nos dedicando, procurando motivação todos os dias, sermos chamados de doutrinados", afirmou.
"Nós não estamos lá de brincadeira. Nós sabemos pelo que estamos lutando."
Pedro de Oliveira/Alep
A estudante Ana Julia Pires Ribeiro participa da sessão da Assembleia Legislativa do Paraná e defende ocupação das escolas
A estudante Ana Julia Pires Ribeiro participa de sessão da Assembleia Legislativa do Paraná
Aluna de um colégio ocupado em Curitiba, ela criticou os deputados por estarem "com as mãos sujas de sangue", depois de um aluno ser morto a facadas por um colega numa ocupação na cidade, na última segunda (24).
O presidente da Assembleia, Ademar Traiano (PSDB), a interrompeu. Disse que não toleraria agressões a parlamentares. "Eu peço desculpas, mas o Estatuto da Criança e do Adolescente nos diz que a responsabilidade pelos nossos adolescentes e estudantes é da sociedade, da família e do Estado", respondeu Ana Júlia, ovacionada pelo público presente.
Nesta quinta (27), Ana Júlia, filha de um advogado e de uma professora, deu entrevista à Folha. Também falou com veículos de imprensa, nacionais e internacionais. Era abraçada por colegas e recebia as pessoas desabafando sobre o assédio: "Ai, meu Deus. Que loucura".
Na semana que vem, deve participar de uma reunião no Senado para debater a reforma do ensino médio –enviado pelo governo Michel Temer (PMDB) por meio de uma medida provisória.
Antes de falar à reportagem, poucas horas antes, havia recebido uma ligação do ex-presidente Lula. Ele disse ter se emocionado com o discurso da menina, que valorizou na internet.
*
Folha - Desde quando sua escola está ocupada?
Ana Júlia Ribeiro - Faz duas semanas hoje [quinta]. A gente fez duas assembleias, uma sobre quais seriam os motivos, como funcionaria, e foi votado sim. Depois, fizemos uma segunda assembleia, reconfirmando o posicionamento. E o pessoal topou. A assembleia foi somente com os alunos. A decisão foi quase que unânime.
Por que, na sua opinião, o movimento é legítimo?
A legalidade do movimento é bem clara para mim. A escola é nossa. E, se a gente está lutando por algo que é nosso, a gente pode ocupar. A gente está ocupando, e não invadindo. Estamos preservando o patrimônio. Temos oficinas, debates, roda de conversa, cine-debate, aulão, aula do conteúdo básico... De tudo um pouco.
Em seu discurso na Assembleia, você citou alguns artigos do Estatuto da Criança e do Adolescente.
Nós sabemos a importância de estarmos seguros em alguma coisa. Quando a gente fez o debate sobre a medida provisória [da reforma do ensino médio], nas assembleias, já falávamos disso.
A gente recebeu muitas cartilhas aqui, e muitas citavam o Estatuto da Criança e do Adolescente. Aí fui procurar lá. Consultei meu pai: "Isso aqui está certo? É o artigo 16?". Aí achei o inciso, que mostra que a participação na vida política é assegurada pelo ECA.
PUBLICIDADE

Nenhum comentário:

Postar um comentário