estudante que 'encarou' deputados do Paraná defende ocupações de escolas
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O telefone de Ana Júlia Pires Ribeiro, 16, não para de tocar. A estudante de um colégio público do Paraná ganhou notoriedade nesta quarta (26), ao fazer discurso incisivo a deputados estaduais a favor das ocupações de escolas do Estado –são cerca de 700 unidades ocupadas em protesto contra a reforma nacional do ensino médio.
"É um insulto a nós que estamos lá, nos dedicando, procurando motivação todos os dias, sermos chamados de doutrinados", afirmou.
"Nós não estamos lá de brincadeira. Nós sabemos pelo que estamos lutando."
| Pedro de Oliveira/Alep | ||
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| A estudante Ana Julia Pires Ribeiro participa de sessão da Assembleia Legislativa do Paraná |
Aluna de um colégio ocupado em Curitiba, ela criticou os deputados por estarem "com as mãos sujas de sangue", depois de um aluno ser morto a facadas por um colega numa ocupação na cidade, na última segunda (24).
O presidente da Assembleia, Ademar Traiano (PSDB), a interrompeu. Disse que não toleraria agressões a parlamentares. "Eu peço desculpas, mas o Estatuto da Criança e do Adolescente nos diz que a responsabilidade pelos nossos adolescentes e estudantes é da sociedade, da família e do Estado", respondeu Ana Júlia, ovacionada pelo público presente.
Nesta quinta (27), Ana Júlia, filha de um advogado e de uma professora, deu entrevista à Folha. Também falou com veículos de imprensa, nacionais e internacionais. Era abraçada por colegas e recebia as pessoas desabafando sobre o assédio: "Ai, meu Deus. Que loucura".
Na semana que vem, deve participar de uma reunião no Senado para debater a reforma do ensino médio –enviado pelo governo Michel Temer (PMDB) por meio de uma medida provisória.
Antes de falar à reportagem, poucas horas antes, havia recebido uma ligação do ex-presidente Lula. Ele disse ter se emocionado com o discurso da menina, que valorizou na internet.
Folha - Desde quando sua escola está ocupada?
Ana Júlia Ribeiro - Faz duas semanas hoje [quinta]. A gente fez duas assembleias, uma sobre quais seriam os motivos, como funcionaria, e foi votado sim. Depois, fizemos uma segunda assembleia, reconfirmando o posicionamento. E o pessoal topou. A assembleia foi somente com os alunos. A decisão foi quase que unânime.
Ana Júlia Ribeiro - Faz duas semanas hoje [quinta]. A gente fez duas assembleias, uma sobre quais seriam os motivos, como funcionaria, e foi votado sim. Depois, fizemos uma segunda assembleia, reconfirmando o posicionamento. E o pessoal topou. A assembleia foi somente com os alunos. A decisão foi quase que unânime.
Por que, na sua opinião, o movimento é legítimo?
A legalidade do movimento é bem clara para mim. A escola é nossa. E, se a gente está lutando por algo que é nosso, a gente pode ocupar. A gente está ocupando, e não invadindo. Estamos preservando o patrimônio. Temos oficinas, debates, roda de conversa, cine-debate, aulão, aula do conteúdo básico... De tudo um pouco.
A legalidade do movimento é bem clara para mim. A escola é nossa. E, se a gente está lutando por algo que é nosso, a gente pode ocupar. A gente está ocupando, e não invadindo. Estamos preservando o patrimônio. Temos oficinas, debates, roda de conversa, cine-debate, aulão, aula do conteúdo básico... De tudo um pouco.
Em seu discurso na Assembleia, você citou alguns artigos do Estatuto da Criança e do Adolescente.
Nós sabemos a importância de estarmos seguros em alguma coisa. Quando a gente fez o debate sobre a medida provisória [da reforma do ensino médio], nas assembleias, já falávamos disso.
A gente recebeu muitas cartilhas aqui, e muitas citavam o Estatuto da Criança e do Adolescente. Aí fui procurar lá. Consultei meu pai: "Isso aqui está certo? É o artigo 16?". Aí achei o inciso, que mostra que a participação na vida política é assegurada pelo ECA.
Nós sabemos a importância de estarmos seguros em alguma coisa. Quando a gente fez o debate sobre a medida provisória [da reforma do ensino médio], nas assembleias, já falávamos disso.
A gente recebeu muitas cartilhas aqui, e muitas citavam o Estatuto da Criança e do Adolescente. Aí fui procurar lá. Consultei meu pai: "Isso aqui está certo? É o artigo 16?". Aí achei o inciso, que mostra que a participação na vida política é assegurada pelo ECA.
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