domingo, 21 de outubro de 2012

Um pouco de História

Em 1812, o bairro de São Bernardo tinha 1.521 habitantes, 427 deles escravos. Além de fazendas e sítios isolados, destinados quase que integralmente à agricultura de subsistência, a região não passava de ponto de passagem para tropeiros que faziam o difícil caminho entre o porto de Santos e a cidade de São Paulo. Foi por essa gente que o príncipe regente Dom João 6º assinou, há exatos 200 anos completados hoje, o alvará que elevou São Bernardo à freguesia de São Paulo e criou, a Paróquia de Nossa Senhora da Boa Viagem, hoje Matriz da cidade.
A criação da igreja era reivindicação dos moradores, que precisavam se deslocar até a Igreja da Sé para registros de nascimento, batismos, casamentos e óbitos. Naquela época, Igreja e Estado eram ligados, e a paróquia era responsável por expedir os principais documentos civis da sociedade. "A elevação de São Bernardo à freguesia possibilitou a criação de cargos administrativos na então vila, tais como juiz de paz e fiscais. Trata-se dos primeiros limites oficiais do que hoje conhecemos como Grande ABC", diz o pesquisador Rodolfo Scopel Jacobine, da Seção de Pesquisa e Documentação da Prefeitura.
A criação da paróquia onde antes só havia capelas trouxe desenvolvimento. A primeira versão do prédio ficou pronta em 1825 e, a partir daí, delineou-se as primeiras ruas da nascente região, hoje chamadas Rio Branco, Padre Lustosa, Santa Filomena, Doutor Flaquer e Marechal Deodoro, formando o quarteirão da igreja e o centro da comunidade que vivia ali.
MUNICÍPIO
Nos 78 anos em que São Bernardo foi freguesia, ganhou escola e prédios importantes, como o do Alferes Bonilha, o primeiro juiz de paz da vila. "O cargo é o que existia de mais próximo ao prefeito de hoje, no sentido de ser a autoridade máxima do local", destaca o também pesquisador da seção Jorge Henrique Scopel Jacobine. O casarão de Bonilha ficava onde hoje é a Praça Lauro Gomes, e era o único edifício de dois andares da região.
Em 1889, quando São Bernardo se tornou cidade, foi no casarão que se instalaram os primeiros intendentes que a administraram. "Com a criação do município, assumiu então o Conselho de Intendência, composto por três intendentes nomeados pelo governo estadula. Somente em 1892, os primeiros vereadores da cidade elegeriam Luiz Pinto Flaquer Jr. Como único intendente de São Bernardo. A partir de 1906, o intendente passou a ser denominado prefeito", explica Jorge Henrique.
Ainda como freguesia, uma das figuras mais importantes para São Bernardo foi o padre Lustosa, professor da primeira escola da região, aberta em 1830 para pouco mais de 30 alunos. Padre Lustosa foi também vigário geral da paróquia de Boa Viagem, representando ao mesmo tempo educação e religião para o povo simples do então bairro.
EMANCIPAÇÃO
Na fase final de freguesia, São Bernardo viu a ascensão de Santo André, que fazia parte de seu território, por meio da construção da Estrada de Ferro Santos-Jundiaí. Santo André avançaria então e acabaria por engolir São Bernardo quando se tornou município, em 1938.
Em 1945, porém, São Bernardo se emancipa e adiciona a terminação do Campo, para se diferenciar da então vila que ficou para trás. Com as fábricas de móveis, as tecelagens e outras indústrias que se instalaram ali, a cidade voltou a crescer. Em 1949, foi a vez de São Caetano, e em 1953, Mauá e Ribeirão Pires.
Duzentos anos depois, São Bernardo é uma das primeiras do Estado a comemorar a data em que se tornou freguesia, com exposições e festejos na Matriz.
Primeiro registro após criação de cartório foi um óbito
O primeiro cartório de registro civil de São Bernardo separado da igreja foi criado apenas em 1875. O ato de inauguração documentado pelo cartório foi o óbito de José, filho de João Correia Dias, em letras rebuscadas difíceis de entender. O livro 1 está guardado no extenso arquivo de 169 livros de óbitos, 401 de casamentos e 682 de nascimento do 1º Cartório de Registro Civil da Rua Rio Branco, no Centro.
O delegado oficial Eugênio Tonin chegou em 1992 e cuida com carinho dos muitos documentos expedidos ali, parte importante da história de quem nasceu, casou ou morreu no município. "Um cartório representa muito para a cidade. O registro civil é o que torna a pessoa cidadão."
Tonin imagina que foi esse o sentimento dos poucos moradores da região com a criação da freguesia de São Bernardo, há 200 anos. "Antes, era preciso ir até a Sé em busca de um documento. Naquela época os caminhos eram tortuosos. Muita gente sequer chegava a ter um registro."
Hoje o cartório vai às maternidades do município para registrar os recém-nascidos. E, em breve, será possível acessar os registros de qualquer lugar do País, por meio da Internet. "Garantir o direito básico do cidadão de existir perante a lei é nosso trabalho", destaca Tonin.
Missa e exposição integram comemoração
Na Matriz de Boa Viagem, as comemorações pelo bicentenário começaram em 2010, com apresentação de concertos e corais, instalação de órgão musical, concursos de hino, poesia e redação, selo paroquial, publicação de livro, sagração da igreja e benção do Papa. Hoje, missa com o bispo diocesano dom Nelson Westrupp, a partir das 10h, encerra o jubileu dos 200 anos da primeira paróquia do Grande ABC.
Conforme o pároco da Matriz, o padre Giuseppe Borttolato, a presença da igreja em meio ao povo daquela época representou a implantação do evangelho de Jesus. “O nascimento da paróquia aproximou as pessoas de Deus.”
Um dos coordenadores dos festejos, Roberto Vertamatti, destaca que, por 100 anos, a igreja de Boa Viagem foi a única da região. “Antes do decreto de Dom João 6º, havia aqui apenas duas capelas: a dos Beneditinos, que ficava no terreno onde hoje é o Carrefour Vergueiro, e a do Pilar, em Ribeirão Pires.” Hoje, são 98 paróquias espalhadas pelas sete cidades.
Também para comemorar a data, a exposição Freguesia de São Bernardo: 200 anos de Criação, estará até o dia 31 na Câmara de Cultura (Rua Marechal Deodoro, 1325 – Centro), das 8h às 18h de segunda a sexta-feira e das 8h às 17h aos sábados. A entrada é gratuita.
Depois, as fotos e textos que contam a história da freguesia estarão de 5 a 14 de novembro na Biblioteca Guimarães Rosa (Avenida João Firmino, 900 - bairro Assunção), e de 19 a 30 de novembro na Biblioteca Machado de Assis (Rua Araguaia, 284 - Riacho Grande). O horário de visitação é das 8h às 16h30 (segunda a sexta) e 8h às 13h30.

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