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Trilhos chineses usados em trecho da ferrovia Norte-Sul; segundo relatório, material pode comprometer segurança da via |
TRILHO CHINÊS
Os trilhos desse trecho da Norte-Sul começaram a chegar da China em 2007. Em contratos que ainda são investigados por órgãos de controle, o governo já recebeu 151 mil toneladas (222 mil barras), ao custo de R$ 470 milhões. Parte dos trilhos segue depositada em um terreno, sem cobertura.
A chegada do material não foi precedida de uma fiscalização adequada pela Valec, responsável pela obra, segundo o TCU (Tribunal de Contas da União). A estatal não fez as checagens para verificar se os trilhos tinham a rigidez determinada no contrato.
Após ser alertada dos problemas pelo ministério, a Valec decidiu contratar uma empresa privada para realizar o serviço. A concorrência deve acontecer em maio.
A estatal também foi acusada pelo TCU de receber trechos da obra sem a devida fiscalização. Com isso, parte do que já estava pronto está sendo destruída pela ação do tempo, conforme a Folha publicou em junho de 2012.
Há defeitos construtivos que vão onerar para sempre quem administrar a ferrovia, o que vai encarecer o custo do frete. Um deles é que a plataforma onde os trilhos foram assentados tem tamanho menor que o necessário, aumentando, assim, o custo de manutenção da via.
O TCU encontrou outros defeitos, como má qualidade dos dormentes (madeira ou concreto onde são assentados os trilhos) e curvas fora das especificações, o que impedirá transitar na velocidade projetada, de 60 quilômetros por hora.
FORNECEDOR
Os trilhos da ferrovia Norte-Sul foram fornecidos pela Dismaf, que venceu as duas licitações para a compra, feitas em 2007 e 2009. Nos dois casos, ela adquiriu os trilhos da companhia chinesa Pangnang, uma das maiores empresas do ramo no mundo.
A Dismaf, de Brasília, disputa concorrências públicas em vários ramos. Pertence aos irmãos Basile e Alexandre Pantazis, que eram filiados ao PTB e ligados ao senador Gim Argello (PTB-DF).
A Valec tentou voltar a comprar trilhos para dois outros trechos ferroviários em construção --a Norte-Sul entre Goiás e São Paulo e a Ferrovia Oeste-Leste, na Bahia. As duas tentativas foram barradas pelo TCU por indícios de irregularidades.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
OUTRO LADO
A Dismaf, fornecedora dos trilhos da Norte-Sul, nega que tenha entregue material de baixa qualidade ou com defeitos para a Valec.
A empresa afirma que a Valec chegou a mandar representantes para a China para conhecer o processo de produção dos trilhos.
A Dismaf diz ainda possuir certificados de empresas no Brasil e no exterior sobre a qualidade de seu produto.
"Nunca recebemos carta da Valec nem de ninguém dizendo que há problemas nos trilhos", diz Basile Pantazis, dono da empresa, que colocou em dúvida a credibilidade da nota técnica do Ministério dos Transportes e atribuiu a sua realização a uma tentativa de concorrentes de prejudicar a empresa.
Em janeiro, a Dismaf ingressou com ação contra a Valec e a União, pedindo a realização de perícia judicial para constatar a qualidade dos trilhos fornecidos.
POLÍTICA
Sobre a sua relação com o PTB, Pantazis diz que ele e o irmão filiaram-se à legenda em 2005, a pedido do então deputado distrital Gim Argello, hoje senador.
Ele diz, no entanto, ter pedido desfiliação e negou que as relações políticas impulsionem a empresa.
"Nunca pedi nada ao Gim. Sou amigo de vários senadores, e nunca pedi nada a ninguém. Eu não preciso", disse, argumentando ainda que a Valec sempre foi controlada, nesse período, pelo PR.
O Ministério dos Transportes afirmou que, após a vistoria, determinou à Valec que tomasse providências para a execução das garantias.
A Valec informou que, após receber a informação do ministério, abriu licitação com o objetivo de contratar uma empresa para atestar a qualidade dos trilhos.
"Somente após o recebimento dos laudos (...) a Valec terá elementos concretos para falar em qualidade, garantia, defeitos, correções e possíveis penalidades às empresas fornecedoras do material", diz a estatal em nota.
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