domingo, 17 de maio de 2015


Com esses movimentos anti-PT, digo, anticorrupção, novamente a direita parece não encontrar um uníssono. Saem todos juntos à rua e até dividem a cerveja long neck de oito reais e a selfie, mas os discursos são destoantes.

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Direita brasileira (Imagem: Pragmatismo Político)
Delmar Bertuol*, Pragmatismo Político
A direita brasileira só visa a uma coisa: o poder. É compreensível. Ao final do Governo Dilma, contar-se-á dezesseis anos de um governo esquerdista e seus conseguintes malefícios ao dito progresso – seja lá o que a direita entenda por isso: diminuição da miséria, aumento de pobres e negros nas faculdades e, portanto, em empregos melhores, aumento dos pobres, Deus do Céu, andando de avião, entre outros.
Ocorre, contudo, que os direitistas não se entendem. O coro está desafinado. Nas eleições, o PSDB, depois de anos criticando o Programa, afirmou que não só manteria como aumentaria o Bolsa Família. Foi além: garantiu que a paternidade do Programa, tantas vezes contestado, era do FHC.
Elogiou a política de cotas sociais e raciais. Não pôde, num contudo lamentado, requerer o pioneirismo dessas iniciativas, mas garantiu que, no eventual governo tucano, essas medidas positivas seriam mantidas. Claro que o PSDB prometeu, também, manter o Programa Minha Casa Minha Vida. Não me lembro de ter visto, mas é possível que o Aécio até tenha dito que faria um esforço para baixar ainda mais os juros da casa própria aos carentes.
Mas o PSDB esqueceu de combinar com os seus militantes (por militantes tucanos, leiam antipetistas de toda ordem) os discursos. Enquanto o Aécio se esforçava para convencer os eleitores de que os programas sociais seriam mantidos e aumentados em seu governo, os “militantes” tucanos enchiam as redes sociais de pedidos de votos no 45, para acabar com esse privilégio de cotas, com esse incentivo à vagabundagem que é o Bolsa Família e pelo fim da classe média pagar a conta do assistencialismo governamental.
Quem quer casa, que trabalhe para consegui-la. Se, nos programas televisivos, o Aécio já não convencia muita gente, seus cabos eleitorais voluntários lhe atrapalharam ainda mais.
Aécio também se esforçava em dizer que era de esquerda. Mostrava-se ofendido, inclusive, quando insinuavam o contrário. Novamente, não houve combinação quanto à ideologia a ser adotada num governo tucano. Eleitores do Aécio gritavam: chega de socialismo! Chega de comunismo! Chega, enfim, de esquerda. Ou, como é típico da direita: esquerda e direita não existem mais. Ou, num paradoxo também típico da direita, argumentavam as duas coisas. Uma após outra.
Agora, com esses movimentos anti-PT, digo, anticorrupção, novamente a direita parece não encontrar um uníssono. Saem todos juntos à rua e até dividem a cerveja long neck de oito reais e a selfie, mas os discursos são destoantes. É mais ou menos como ocorria na eleição: o que importa é tirar o PT do poder, o como não é importante.
Nas eleições, os antipetistas chegaram a achar que a Marina era a melhor opção. Mas seus discursos eram tão contraditórios que nem ela se convencia do que falava (mais ou menos como o Aécio convencer-se que é de esquerda). Voltaram, então, ao sorridente e jovial peessedebista. Agora, nas manifestações contra o PT, digo, contra a corrupção, os discursos coexistem e andam lado a lado, numa contradição que só nossa direita consegue fazer.
Manifestantes pedem a volta da ditadura alegando que isso é democraticamente legítimo. Outros, logo ali do lado, acusam o PT de tentar implantar uma ditadura bolivariana (não peça para o manifestante explicar o que é isso, pois ele não sabe). De início, o Senador Ronaldo Caiado, do PFL (cujos membros, hoje, querem ser chamados de democratas, mas apoiaram a Ditadura) defendeu o impítiman (não sei escrever impeachment) da Presidenta.
O Aécio Neves, de novo ele, sonho dos inconformados, mostrou-se, numa atitude que, de princípio, eu achei que fosse sensatez, agora acho que era cautela de quem desconhece o porvir, disse ser um absurdo o impítimam. Mas as manifestações foram crescendo e os pedidos de afastamento da Presidenta aumentando. O PSDB então, mudou o discurso. Encomendou um parecer jurídico que sustentasse o processo de impeachment (segundo o corretor ortográfico, desta vez acertei). E antes do parecer (que será, indubitavelmente, favorável ao impedimento) estar pronto, os tucanos já defendem o cessamento do mandato legitimamente conquistado.
Óquei. Sabemos todos que os inconformados com a derrota, digo, os manifestantes, querem a saída da Presidenta Dilma porque ela é do PT, digo, porque no governo dela houve corrupção. Mas como querem fazer isso?
Irão aceitar que o Michel Temer assuma, mesmo a maioria não sabendo quem ele é? Ou vão exigir, utilizando um parecer jurídico anômalo encomendado como embasamento, que o Aécio Neves assuma? Ou ainda, pelo bem de nossa democracia, vão seguir a ideia do golpe militar?
A direita brasileira deve primeiro se organizar antes de tentar tomar o poder à força (literalmente, talvez). Em se organizando, deve, de maneira coletiva, rotular-se como tal: somos de direita! Em se assumindo, virão que a população não os quer no poder.
Entenderam, ou precisam de um parecer encomendado para acreditarem?
*Delmar Bertuol é escritor, membro da Academia Montenegrina de Letras, graduando em história e colaborou para Pragmatismo Político
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