segunda-feira, 12 de março de 2012

Catadora aprendeu desde cedo a usar o lixo como fonte de sua subsistência

A mudança de Mônica

A garotinha assustada que chegou a Diadema há 26 anos tornou-se uma guerreira. Foto: Luciano Vicioni
A garotinha assustada que chegou a Diadema há 26 anos tornou-se uma guerreira. Foto: Luciano Vicioni
Catadora aprendeu desde cedo a usar o lixo como fonte de sua subsistência, mas sentia-se vista com olhares de preconceito

A catadora Maria Mônica da Silva, 39 anos, teve de aprender desde cedo a extrair do lixo a sua fonte de subsistência e a transformar os resíduos que colheu em produtos de cidadania. No RG, sua cidade natal é Acopiara, no sertão do Ceará, mas foi em Diadema, no final da década de 1980, que Mônica começou a descobrir-se como cidadã.
Antes disso, sentia-se vista pela sociedade com o olhar do preconceito. Foi morar nas ruas do sertão cearense aos 11 anos por causa de conflitos familiares – para comer vendia os resíduos que apanhava nos ferros-velhos. Aos 13 anos e analfabeta, resolveu se aventurar com uma amiga para trocar as ruas de Acopiara por Diadema, onde se estabeleceu em um barraco, numa favela da cidade.
A viagem só foi possível graças a caronas e ao jeitinho de “furar” as catracas dos ônibus, já que o dinheiro mal dava para a alimentação. Chegou com a roupa do corpo. “Nunca tinha visto uma favela, achei aquilo muito feio”, lembra. Conta que o proprietário do barraco que lhe deu abrigo também lhe causou estranheza, porque ficava olhando “meio esquisito”. Mais tarde, os dois se apaixonaram, casaram e tiveram três filhos.
Aprendeu a escrever as primeiras letras com o marido, mas ainda se sentia uma anônima. Mônica até tentou arrumar um emprego de babá, mas logo voltou a catar lixo nas ruas.
Tudo parecia estar se encaixando, quando o marido, que trabalhava como auxiliar de serviços gerais, faleceu devido a uma tentativa frustrada de assalto. Com três filhos para criar, Mônica teve de lutar um ano na Justiça para receber pensão, e retornou às ruas para apanhar lixo e vendê-los nos ferros-velhos.
O momento mais emblemático da transformação da vida de Mônica ocorreu a partir de um convite que recebeu em 2004, para integrar um grupo de catadores de Diadema, que havia formado uma cooperativa de recicláveis três anos antes. O grupo se uniu à Prefeitura para criarem o programa Vida Limpa, uma das fontes de renda dos catadores; a outra fonte vem dos produtos fornecidos para a indústria. Mônica continuou apanhando e selecionando resíduos nas ruas, mas desta vez o trabalho era melhor remunerado e organizado pela cooperativa.
A renda cresceu, Mônica casou-se novamente e teve mais dois filhos. Desde 2010, deixou o ofício de catadora para se tornar uma ativista ambiental, presidente e gestora de organizações da sociedade civil que defendem a regulamentação da profissão de catador e discutem políticas públicas para redução de danos ambientais.
A garotinha assustada e analfabeta que chegou a Diadema há 26 anos tornou-se uma guerreira, com uma fala bem articulada. Chegou a viajar o mundo para dar palestras sobre as transformações sociais que ajudou a promover nas ruas. A missão da ativista agora vai muito além da luta pela subsistência.
“Eu pretendo me formar em Gestão Ambiental, e tenho o desejo de que todos os governos olhem o catador como um agente de limpeza, como um cidadão.”

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