sábado, 17 de março de 2012

Rio testa sistema pioneiro de tecnologia em centros urbanos a tecnologia a serviço do homem

Rio testa sistema pioneiro de tecnologia em centros urbanos
há uma sala de controle que parece algo saído diretamente da Nasa, a agência espacial americana.
Funcionários municipais, trajando macacões brancos, trabalham sem alarde diante de uma parede gigante com muitas telas --uma espécie de Rio virtual em tempo real. Imagens de vídeo chegam constantemente de estações de metrô e de cruzamentos importantes. Um programa de meteorologia traça previsões de chuva em vários pontos da cidade. Um mapa se ilumina para apontar os locais onde há acidentes de carro, falta de luz e outros problemas.
Guru Banavar, que dirigiu o projeto para a unidade Cidades Mais Inteligentes, da IBM
Guru Banavar, que dirigiu o projeto para a unidade Cidades Mais Inteligentes, da IBM
A ordem e a precisão parecem deslocadas nesta cidade brasileira descontraída. Mas o que está acontecendo aqui reflete um experimento ousado e potencialmente lucrativo que pode moldar o futuro de cidades em todo lugar do mundo.
O prédio em questão é o Centro de Operações Rio e seu sistema foi criado pela IBM.
O Rio está servindo de teste crucial para a empresa. Até 2050, aproximadamente 75% da população mundial deve estar vivendo em cidades. Muitas áreas metropolitanas já empregam sistemas de coleta de dados como sensores, câmeras de vídeo e GPS. Avanços na potência de computação e na análise de dados agora possibilitam que empresas como a IBM coletem e organizem todos esses dados e, com a ajuda de algoritmos de computador, identifiquem padrões e tendências.
O mercado para suprir cidades de sistemas "inteligentes" deve chegar a US$ 57 bilhões até 2014, segundo a firma de pesquisas de mercado IDC Government Insights. A IBM quer dominar uma parte disso.
Aberto pela unidade de Cidades Mais Inteligentes da empresa no final de 2010, o Centro de Operações Rio faz parte de um esforço para conquistar um lugar nesse mercado. Desde sua fundação, a unidade Cidades Mais Inteligentes já se envolveu em milhares de projetos.
EXPANSÃO ACELERADA
Cidade horizontal que se estende entre montanhas e o oceano Atlântico, o Rio de Janeiro é ao mesmo tempo uma cidade em expansão acelerada, uma cidade de praia, um paraíso, uma monstruosidade, um centro de pesquisas e uma grande obra em construção.
Gigantes do setor petrolífero como a Schlumberger vêm correndo para construir centros de pesquisas aqui, para ajudar a desenvolver os enormes campos marítimos de petróleo e de gás.
Unidades policiais especiais entraram em cerca de 20 favelas, em um esforço para afirmar o controle do governo e combater a criminalidade. O Rio está reconstruindo grandes estádios e construindo um sistema de ônibus, para a Copa do Mundo de 2014 e para os Jogos Olímpicos de 2016.
Esta é uma cidade em que alguns dos ricos vivem em condomínios fechados, enquanto alguns dos pobres nas favelas pirateiam eletricidade da grade elétrica.
Uma cidade às vezes atingida por desastres --naturais ou não. Temporais podem provocar deslizamentos de terra mortíferos. No ano passado um bonde histórico descarrilou, matando cinco pessoas.
No início deste ano, três prédios desabaram no centro da cidade, deixando pelo menos 17 mortos e dezenas de feridos.
As condições complexas criam um ambiente propício para a IBM ampliar seu trabalho com governos municipais. Se a empresa puder remodelar o Rio de Janeiro como cidade mais inteligente, poderá fazer o mesmo em qualquer outro lugar do mundo.
"Uma cidade inteligente é uma cidade com informação", disse Guru Banavar, 45, o executivo-chefe de tecnologia da IBM para o setor público global. "Uma vez que você tenha as informações necessárias, entenda-as e saiba o que fazer com elas, estará a meio caminho da inteligência."
O fato que catalisou a criação do centro de operações foi uma tempestade torrencial ocorrida há quase dois anos. Por volta das 4h daquela manhã, o prefeito Eduardo Paes começou a receber informações alarmantes. Deslizamentos de terra estavam ocorrendo em algumas favelas, e havia o risco de muitos mais. Houve inundações inesperadas.
Carros e caminhões estavam ilhados na água, que não parava de subir. Mas o Rio não contava com um local específico a partir do qual o prefeito pudesse monitorar a situação e supervisionar a resposta. "Percebi que éramos muito fracos", recordou.
Eduardo Paes viveu no Estado americano de Connecticut na adolescência e se lembrava que algumas cidades americanas decretavam "dias de neve", para que pudessem limpar as ruas.
Ainda na madrugada, ele começou a telefonar para estações de TV, rádios e jornais, declarando estado de emergência e recomendando à população que não saísse de casa.
"Não tínhamos planos para isso, mas funcionou", disse Paes. Sessenta e oito pessoas morreram, mas o número de mortos poderia ter sido muito maior. Mesmo assim, o prefeito decidiu que o Rio poderia fazer melhor.
Ele teve um encontro com a IBM, que tinha desenvolvido centros de controle de criminalidade para Madri e Nova York, além de um sistema de cobrança de taxa de congestionamento de trânsito para Estocolmo. Só que criar um sistema para o Rio, abrangendo a cidade inteira, era um empreendimento muito maior.
A IBM administrou o projeto em sua íntegra. Empresas locais cuidaram da construção e das telecomunicações. A Cisco forneceu infraestrutura de rede e o sistema de videoconferências que liga o centro de operações à casa do prefeito. As telas digitais são da Samsung.
A IBM incorporou hardware, software, capacidades analíticas e de pesquisas. Uma plataforma de operações virtual atua como centro de coleta e distribuição de dados, integrando as informações que chegam por telefone, rádio, e-mail e mensagens de texto. Quando os funcionários da prefeitura entram no sistema, eles podem carregar informações de uma cena de acidente, por exemplo, e ver quantas ambulâncias foram enviadas para o local.
Podem analisar informações históricas para identificar os locais onde tendem a ocorrer acidentes de carro, por exemplo. Além disso, a IBM desenvolveu um sistema de previsão de enchentes customizado para a cidade.
O prefeito disse que o projeto custou ao Rio cerca de US$ 14 milhões. Se tudo funcionar, poderá fazer do Rio um modelo de gestão municipal movida por dados.
"Queremos colocar o Rio à frente de todas as cidades do mundo em matéria de operações do cotidiano e resposta a emergências", afirmou o prefeito. Mas, segundo ele, o desafio será fazer a cidade funcionar com mais eficiência sem, entretanto, diluir o espírito que a faz ser o que é. "Não queremos ser uma Lausanne ou Zurique", acrescentou.
Marcelo

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