ETADÂO
Após ser acusado por vereadores de facilitar a votação do projeto que acaba com o rodízio de veículos em São Paulo, o presidente da Câmara, José Américo (PT), anunciou nesta quinta-feira, 29, que não vai mais permitir a votação simbólica de "propostas que julgar polêmicas". "Eu vou pedir votação nominal. Não vou mais deixar isso (aprovação sem discussão) acontecer."
Ele disse também que qualquer líder das 14 bancadas da Casa poderia ter pedido votação nominal durante a leitura da proposta, que durou cerca de 50 segundos. Américo sinalizou que, a partir de agora, somente projetos com nomes de ruas ou homenagens poderão passar por votações simbólicas, sem discussão.
O vídeo da TV Câmara mostra o momento exato da votação do projeto e revela que apenas os vereadores Arselino Tatto (PT) e Floriano Pesaro (PSDB) registraram votos de suas bancadas contrários à proposta. Pesaro ainda alertou no microfone que era "o projeto que acaba com o rodízio". Mas nenhum dos 53 parlamentares presentes no plenário pediu votação nominal, o que poderia ter barrado o fim da restrição.
No momento em que o vereador Toninho Vespoli (PSOL) ia ao microfone para pedir a verificação nominal da votação, o presidente se apressou em proclamar o resultado final da proposta, como mostra o vídeo. Ao final, vereadores influentes na Casa, como Police Neto (PDS) e Goulart (PSD), avaliaram que o presidente não poderia ter deixado a votação ocorrer sem alertar os demais líderes.
"Qualquer líder poderia ter feito o pedido", argumentou ontem Américo. Parlamentares também foram ontem ao plenário reclamar que o projeto, de autoria do vereador Adilson Amadeu (PTB), foi incluído na pauta de última hora, sem acordo. Mas não é isso o que os registros da Secretaria- Geral do Legislativo, obtidos pelo Estado, mostram.
O projeto de restrição ao rodízio voltou a tramitar na Casa no dia 17 de dezembro e foi incluído na pauta pela primeira vez em 9 de abril. O texto se repetiu na lista de projetos das pautas de 12 sessões. "Eu sempre presto atenção em todos os projetos da lista, mas, dessa vez, não vi o projeto, ele foi incluído no mesmo dia na pauta", afirmou Ricardo Nunes, do PMDB. "O líder de governo foi complacente, o governo fez isso para agradar o PTB. O Tatto fez isso para agradar o Amadeu, ficar na boa com um partido de sustentação (do governo)", discursou Pesaro.
Bastidores.
Mas a aprovação do projeto que acabou com o rodízio abriu uma crise na base de sustentação do prefeito Fernando Haddad (PT) e travou a tramitação do Plano Diretor. Na avaliação de líderes ouvidos pela reportagem, o presidente Américo facilitou a votação do projeto na tentativa de atingir o líder de governo, Arselino Tatto (PT), responsável pelos acordos da Casa e postulante à presidência para 2015-2016.
Logo após a votação, vereadores da base foram cobrar Tatto sobre a inclusão da proposta no acordo para a votação simbólica. O vereador petista negou ter feito qualquer acordo com Amadeu. Outro objetivo de Américo seria agradar Amadeu, vereador ligado ao deputado estadual Campos Machado (PTB) e que hoje articula a candidatura do vereador Milton Leite (DEM) para presidente da Câmara. Haddad afirmou ontem que vai vetar o projeto. "Não entendi. Ninguém falou comigo. Eu vou vetar, claro", disse.
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