sexta-feira, 19 de junho de 2015

fonte Bol 


Roma, 19 jun (EFE).- A grave destruição do meio ambiente denunciada pelo papa Francisco em sua encíclica antes da Convenção do Clima em Paris também é um sério inconveniente para a luta contra a fome e a pobreza, sustentam vários especialistas.

A "revolução cultural corajosa" que o pontífice propõe frente às formas de vida "insustentáveis" é outra maneira de pedir à mudança que boa parte da comunidade científica leva anos reivindicando.

O diretor-geral da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), Graziano da Silva, disse concordar com o papa sobre o fato de a responsabilidade de proteger o planeta para as gerações futuras ser de todos.

"Os problemas da pobreza e do meio ambiente são, de fato, uma só crise", afirmou Silva nesta sexta-feira, em comunicado.

De acordo com a FAO, a mudança climática está impactando na forma de fenômenos meteorológicos mais extremos, capazes de destruir plantações inteiras, aumentar o nível do mar e provocar variações de temperatura que podem alterar o desenvolvimento de plantas e insetos essenciais, o que afeta igualmente à produção de alimentos.

Segundo o Instituto Internacional de Pesquisa sobre Políticas Alimentícias (IFPRI), apesar do aumento da população mundial, muitas colheitas diminuirão a 25% nos próximos 35 anos por conta da mudança climática, enfraquecendo os esforços para acabar com a pobreza e a fome.

A mitigação e a adaptação à mudança climática nos países pobres são dois dos aspectos mais sensíveis nas árduas negociações que buscam reduzir a temperatura do planeta a um máximo de dois graus centígrados com relação ao nível pré-industrial. Entre os mecanismos para compensar estes países está o chamado Fundo Verde para o Clima, que pretende mobilizar US$ 100 bilhões até 2020, apesar de até agora ter reunido apenas 10% do valor.

Esses pontos deverão estar no documento que será discutido em Paris no final do ano, disse Enrique Maurtua Konstantinidis, co-presidente do grupo de trabalho para a mitigação da "Climate Action Network" (CAN), formada por 900 ONG de 100 países.

"Os envolvidos na conferência estão trabalhando para superar a falta de confiança entre elas, desacelerando a tomada de decisões", destacou Maurtua, que acredita ser possível alcançar um acordo desta vez.

Igualmente otimista se mostrou Frédéric Gagnon-Lebrun, que dirige o programa de mitigação de mudança climática do Instituto Internacional para o Desenvolvimento Sustentável (IISD).

Em declarações à Agência Efe ele disse que o gesto do papa faz parte de um movimento mais amplo de esforços internacionais que foi surgindo nos últimos meses para enfrentar a mudança climática, enquanto os grupos que negam esse fenômeno estão "cada vez mais marginalizados".

Gagnon-Lebrun pede aos países que sejam "mais ambiciosos" em seus compromissos e sintetizem nos próximos meses os pontos centrais do documento que estão debatendo para estabelecer o funcionamento de um regime novo, deixando os aspectos secundários para conversas posteriores. Caso de fracasso, o pesquisador acredita que surgirão outras iniciativas internacionais ou coletivas frente ao aquecimento global. Mas agora o ideal é aproveitar ao máximo a reunião de Paris, que pode ser "a última tentativa da comunidade internacional para abordar a mudança climática em conjunto ".
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