É hora de o PT deixar o ônus do poder ser carregado por outro partido

Por Francy Lisboa
Desde a sua fundação, há mais de 30 anos, o Partido dos Trabalhadores sofreu diversas transformações. Hoje, como o partido dono das pastas do Executivo, observa aturdido que o conflito entre o que era no início e a sua configuração atual é utilizado diuturnamente como mote para a repetição do mantra de que o partido vendeu-se, ou mesmo acabou.
Há quem argumente que o PT também faria uso dessa aparente contradição para justificar suas ações caso estivesse nas fileiras oposicionistas. Contudo, isso só seria razoável caso assumíssemos que o tempo atua como agente inconteste de maturação política para as pessoas, e para os partidos que elas compõem, independente de, durante esse tempo, o partido ter eventualmente atuado como Poder.
Temos o exemplo do outro partido brasileiro que forma, junto com o PT, o pilar da democracia brasileira. O PSDB já foi poder. Isso, presumivelmente, deveria ter sido um momento de transição, indo da radicalização oposicionista à maturação política oposicionista, com uma agenda propositiva e não simplesmente a reboque do que sai nos noticiários de credibilidade cada vez mais combalida.
FHC já teve o ônus de administrar um país continental como o Brasil. Esteve lá, junto com sua equipe, vivendo as dificuldades e as imposições do pragmatismo para que os planos que ele acreditava ser para o bem do Brasil fossem postos em prática. Mesmo assim, o tempo passou e o fato de ter sido Governo não parece ter vestido a oposição psdebista com as vestes da ponderação.
Os festivais de nonsense da oposição psdebista só seriam justificados casos esta ainda não tivesse tido o ônus de ser Poder. Por isso, seria mais esperado que atitudes inconsequentes derivassem de partidos sem tal ônus: como exemplos: PSOL e a REDE de Marina Silva. Estes últimos estão moralmente livres para tecer teses utópicas como fizera o PT antes de ser Poder. É perfeitamente aceitável tal signo de adolescência partidária. A fala empolgante, o ideal revolucionário, e a pregação de que “jamais fariam isso ou aquilo”.
Para os petistas que não abandonaram o barco durante a transição entre a oposição sonhática e aquilo que podemos chamar de “jogo à vera”, há determinado consenso de que nem sempre se pode obter aquilo que se quer por meio daquilo que se deseja fazer. Essa visão torna o moralismo antigo do PT um dos seus principais algozes na atualidade, utilizada tanto por aquele que já teve o ônus do Poder (PSDB) e aqueles que ainda não o tiveram, seja por medo seja por pura incompetência política.
Dessa forma, como simpatizante do PT, creio ser a hora do PT de fato deixar o ônus do Poder ser carregado por outro partido. A transição entre partidos é vital para a Democracia não como argumentam os derrotados em quatro eleições consecutivas, e que hoje babam de ódio em todas as instituições que eles atuam, desde uma vara de justiça comum até nos gabinetes do TCU. Ela é vital para homogeneizar utopias, quebrar mitos, em suma, fazer com que o sebastianismo, característica forte no brasileiro, seja fulminado.
Todas as correntes ideológicas precisam passar por esse processo de expurgo do sebastianismo, que só é possível quando se é Poder. Assim, caso aquela parcela do espectro eleitoral que crê nas palavras bonitas dos adolescentes partidários de hoje (Rede, PSOL, etc) , principalmente naqueles cânticos de moralismo, caso assumam a tocha do Poder, poderão se juntar ao time de viúvas petistas que se formou quando estas não entenderam o que Lula e Dilma entenderam ao assumir o Poder, que este requer mais coisas do que utopias.
Para que o debate atual não seja pautado pelo moralismo tosco e que as oposições maturem, é preciso que a maior parte das correntes políticas tenha e seja identificada como Poder. Assim, as desilusões se espalharão e o apontar de dedos nãos será mais o início e fim das discussões políticas.