domingo, 2 de março de 2014

Errar pode ser forma de dar guinada na carreira
02/03/2014 - 02h00
| ANA MAGALHÃES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
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Os puxões de orelha escandalosos e pouco construtivos estão mais raros no ambiente corporativo do século 21, no qual a cultura tradicional de grandes empresas cede espaço à busca por dinamismo nas corporações.
Quem diz é Glaucy Bocci, diretora da Towers Watson, uma consultoria de RH.
Para ela, a mudança começou na educação básica, que, nos últimos 20 anos, ganhou características mais construtivistas. Os mais jovens estão acostumados a trabalhar em equipe, a assumir erros e a falar o que pensam. E o erro é parte do processo de criação e experimentação, afirma.
No entanto, muitas organizações ainda são comandadas por profissionais de mais de 45 anos que cresceram em um ambiente pedagógico mais punitivo.
"A maioria das empresas ainda lida mal com o erro", crava Bocci. Ou a pessoa é
demitida ou retaliada de uma maneira subliminar, não sendo alocada em projetos desafiadores ou ficando de fora dos treinamentos.
ERREI E GOSTEI
Há quem relate episódios nos quais meteram os pés pelas mãos com carinho, pois foram fontes de aprendizado.
Alguns também se lembram de momentos traumáticos. Quando ainda era um universitário, Dan Strougo, 32, hoje gerente de contas da 99designs, usou a máquina da agência onde fazia estágio para imprimir um trabalho de faculdade. O chefe viu e o demitiu na hora.
Esse episódio do passado tem reflexos até hoje, diz Strougo. Com os subalternos, afirma, tenta mostrar ao profissional que a empresa se preocupa, sim, com sua vida e suas questões pessoais.
Para Fernando Mantovani, diretor da consultoria Robert Half, há empresas que recorrem a esse discurso, mas, "na prática, os gestores reagem mal quando o profissional relata uma falha".
O problema dessa reação punitiva é "fechar" o canal de comunicação. "Esses episódios marcam de uma maneira ruim, e o funcionário pensa 'vim aqui com transparência' e fui retaliado".
Confira abaixo algumas histórias de como os erros de alguns profissionais serviram para que eles dessem uma guinada nas suas carreiras
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Ari Svartsnaider, fundador da marca de calçados Mr. Cat, diz que, para ele, o céu é o limite. "O problema é que, há 20 anos, eu olhava o céu e esqueci de fazer contas. Um dia fui ver e minha fábrica estava completamente endividada e cheia de estoque", conta. Foi quando decidiu parar de comprar, redesenhou modelos com o couro estocado e focou nas vendas. "Foi um grande erro, mas acabou sendo ótimo, porque aprendi a fazer conta e a equilibrar compras e estoque." Ele comenta que, naquele ano, foi como ter feito uma faculdade de economia na marra. O empresário segue valorizando seus erros. "Aprendemos mais errando do que acertando."
Daniel Marenco/Folhapress
Ari Svartsnaider precisou adequar demanda e produção da sua marca de sapatos, a Mr. Cat
Ari Svartsnaider precisou adequar demanda e produção da sua marca de sapatos, a Mr. Cat
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Um dos doces mais pedidos no restaurante Marakuthai é uma receita tradicional que deu "errado". Vanzetto cozinhava para um evento e precisava assar uma torta. O forno, porém, não funcionava. "Eu improvisei e levei o creme da torta para a panela. Coloquei um monte de coisas para engrossar o creme e ficou maravilhoso." O doce chama-se Santa Tereza. Na cozinha, o erro é uma constante e o segredo é solucionar na hora. Isso pode significar jogar fora o atum que passou do ponto e cozinhar outro. Quando começou sua carreira, Vanzetto não aceitava seus próprios erros. "Quando alguém reclamava, eu chorava, era um drama, era o fim do mundo. Hoje é mais fácil."
Fabio Braga/Folhapress
A chef de cozinha Renata Vanzetto inventou uma sobremesa depois de um erro
A chef de cozinha Renata Vanzetto inventou uma sobremesa depois de um erro


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